terça-feira, 29 de abril de 2008

35 Elegantes Citações de Machado de Assis

Por André Gazola

Lendo.org

No ano de centenário da morte desse que foi o maior escritor brasileiro e um dos maiores da história, nada como relembrar — ou conhecer — algumas das magníficas citações criadas pelo bruxo do Cosme Velho.
Machado de Assis pode não ser a leitura preferida de muitos amantes da literatura, mas sem dúvida é uma figura que merece respeito por ter revolucionado os rumos da criação literária no Brasil.
Bem por isso, as duas primeiras citações que selecionei falam de dois aspectos dessa literatura, bem no estilo machadiano.

O maior pecado, depois do pecado, é a publicação do pecado

Há sempre uma qualidade nos contos, que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos

Não se ama duas vezes a mesma mulher

O amor é o egoísmo duplicado

Lágrimas não são argumentos

A melhor definição de amor não vale um beijo de moça namorada
em “O Espelho”

Eu sinto a nostalgia da imoralidade

Está morto: podemos elogiá-lo à vontade

Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado

Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou
em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”

Esquecer é uma necessidade. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa de apagar o caso escrito
em “Verba Testamentária

A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente
em “Dom Casmurro”

A mentira é muita vez tão involuntária como a respiração
em “Dom Casmurro”

A moral é uma, os pecados são diferentes
em “Quincas Borba”

Palavra puxa palavra, uma idéia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução, alguns dizem que assim é que a natureza compôs as suas espécies
em “Histórias sem Data: Primas de Sapucaia

Pensamentos valem e vivem pela observação exata ou nova, pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a originalidade, a simplicidade e a graça do dizer
em “Carta a Joaquim Nabuco

Importuna coisa é a felicidade alheia quando somos vítima de algum infortúnio

Atrás de toda a ação, há sempre uma intenção

O amor é o rei dos moços e o tirano dos velhos

Não importa ao tempo o minuto que passa, mas o minuto que vem

O melhor drama está no espectador e não no palco

O ridículo é uma espécie de lastro da alma quando ela entra no mar da vida; algumas fazem toda a navegação sem outra espécie de carregamento

Não há decepções possíveis para um viajante, que apenas vê de passagem o lado belo da natureza humana e não ganha tempo de conhecer-lhe o lado feio

O tempo, que a tradição mitológica nos pinta com alvas barbas, é, pelo contrário, um eterno rapagão; só parece velho àqueles que já o estão; em si mesmo traz a perpétua e versátil juventude

Porque não há raciocínio nem documento que nos explique melhor a intenção de um ato do que o próprio autor do ato

A vida é uma enorme lotaria; os prêmios são poucos, os malogrados inúmeros, e com os suspiros de uma geração é que se amassam as esperanças de outra

Meu amigo, a imaginação e o espírito têm limites; a não ser a famosa botelha dos saltimbancos e a credulidade dos homens, nada conheço inesgotável debaixo do sol

Prefiro cair do céu a cair de um prédio de dois andares

Não levante a espada sobre a cabeça de quem te pediu perdão

Escrever é uma questão de colocar acentos

O coração é a região do inesperado

Alguma coisa escapa ao naufrágio das ilusões

As melhores mulheres pertencem aos homens mais atrevidos

Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocardos jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para os discursos de sobremesa, de felicitação ou de agradecimento
A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Ler e Escrever

É preciso um investimento de pelo menos dois a três anos para concretizar a alfabetização de adultos, além da criação de ambientes letrados, defende especialista inglês que se inspira em Paulo Freire

David Archer, em visita ao Brasil em janeiro, por ocasião da 3ª Assembléia Geral da Campanha Global pela Educação, o inglês David Archer, mestre em educação pela Universidade de Oxford, rememorava, ao lado do salão onde eram discutidas as moções da entidade para 2010, um encontro que o marcou: "A primeira vez que vi Paulo Freire foi num dia em que fui dar uma palestra sobre suas idéias, e ele estava na platéia". Paulo Freire é tema constante na vida de Archer. A começar pelo seu discurso sobre alfabetização de adultos. "Não há linha mágica que permita atravessar do não-letrado para o letrado. O letramento é um processo contínuo", afirma. Foi também a partir das idéias de Freire que o coordenador de educação da ONG ActionAid recebeu por três vezes o Prêmio Internacional de Letramento das Nações Unidas. Seu método premiado é utilizado hoje por mais de 500 organizações em mais de 70 países. Atualmente, David Archer atua no apoio a projetos e redes de educação na África, Ásia e América Latina. É também responsável pelo Commonwealth Education Fund, um fundo de US$ 20 milhões que financia projetos sociais na África e no sul da Ásia. A entrevista a seguir foi concedida por Archer durante a visita a São Paulo, quando conversou com a subeditora Beatriz Rey.

A China constatou há pouco tempo que muitos dos adultos que pensava ter alfabetizado voltaram à condição de analfabetos. O que houve de errado com o programa deles?

O ponto de partida disso é que poucos países estão investindo corretamente em letramento de adultos. Os governos colocam muita energia em criar e planejar escolas, e deixam pouco dinheiro para o letramento de adultos. Então, os programas que são desenvolvidos tendem a ser curtos e com financiamento insuficiente. Esse foi o caso da China. Campanhas que ensinam adultos a escrever e a ler em pouco tempo sempre existiram. Há quem prometa isso em seis meses. Isso simplesmente não existe, não é verdade. Se você quer genuinamente promover letramento de adultos, algo que faça com que o aluno utilize o que aprendeu, são necessários no mínimo de dois a três anos de aprendizagem.

Quais são os modelos bem-sucedidos de alfabetização de adultos?
A Campanha Global para Educação conduziu a elaboração do maior re­latório de letramento de adultos pelo mundo em 2005. E encontrou 67 práticas de sucesso em 35 países. Consultamos 100 líderes e experts por todo o mundo e pedimos a eles que nomeassem os programas desenvolvidos por ONGs, governos ou qualquer um que, na opinião deles, davam mais resultados.
Analisamos, nos programas escolhidos, os métodos e os facilitadores. Dessa consulta, desenhamos 12 coisas simples, padrões para desenvolver um programa de letramento bem-sucedido. Os padrões servem como um guia para países que precisam de conselhos. Não são condições e não estamos dizendo que todo mundo deva usá-los. O que dizemos é que, se você quiser aplicar um programa de letramento de adultos no seu país, leia os 12 padrões, eles podem ser um ponto de partida. Mostramos que apesar do senso comum, que diz que há divergências sobre os programas, há um grande consenso. Com essa experiência, ficou claro que é preciso investir no mínimo dois ou três anos e também criar ambientes letrados - particularmente em comunidades isoladas. Se você é um adulto e vive numa vila onde não há nada para ler ou escrever, aprende a habilidade, mas não pode praticá-la no seu dia-a-dia. Ou você trabalha para criar ambientes letrados ou liga o letramento a um processo de transformação, que encoraje e dê meios às pessoas para criar novas perspectivas. É preciso ligar a aprendizagem a um processo que capacite a pessoa a olhar sua vida e identificar coisas que queira mudar nela. Ler e escrever são as maneiras que as pessoas têm para chegar a essa mudança.

Programas de letramento são uma boa bandeira política?
Os programas de letramento viram bandeiras de campanhas políticas em épocas eleitorais. As pessoas estão tão "entusiasmadas" para resolver o problema do analfabetismo que quando aparece dinheiro ficam desesperadas, fazem grandes anúncios para alcançar grandes coisas em um curto tempo. Tentam financiamentos a qualquer custo para anunciar que conseguem alfabetizar 10 milhões de pessoas em seis meses. Outro grande problema do letramento é esse mito de que existe uma linha mágica que permite atravessar do não-letrado para o letrado. Não há linha mágica: é um processo contínuo.

Como foi sua experiência com Paulo Freire?
Fiz muitos trabalhos baseados no legado de Paulo Freire. Cheguei a conversar com ele por carta por algum tempo, e nos encontramos algumas vezes nos anos 90. Nessa época, desenvolvi um trabalho com educação de adultos inspirado pelas idéias de Freire. Entre 1993 e 1995, depois de termos discutidos suas idéias, levamos o programa Reflect para Uganda, Bangladesh e El Salvador. O que fizemos foi instruir os alunos a desenvolver mapas, calendários e diagramas, ou seja, representações visuais de sua comunidade. Assim, eles analisavam questões econômicas, políticas e sociais de sua vida. Ao fazer esse laboratório de representações visuais, ao transferir isso para o papel, além de aprenderem a ler e escrever, as pessoas faziam um levantamento de sua comunidade, de questões da sua vida e as discutiam politicamente. Minha primeira referência foi o desenvolvimento desse trabalho, que ganhou o Prêmio Internacional de Letramento das Nações Unidas por três vezes (2003, 2005 e 2007). Mas acho que precisamos conhecer outros programas. Nosso método é um dos que foi comprovadamente bem-sucedido, mas, se quisermos construir consensos globais, precisamos desenhar amplas lições. Por isso fizemos o relatório de práticas bem-sucedidas da CGE.

Há uma relação direta entre o perfil socioeconômico de um país e o tipo de problema educacional que apresenta?
Não há dúvida de que há uma relação entre o nível de pobreza de um país e o avanço que ele faz em educação. Se você é um país rico, tem os recursos para investir em educação. Mas isso não é uma regra absoluta. Você pode ser um país pobre em termos econômicos, mas o governo pode fazer as escolhas políticas certas e investir em educação. Cuba, por exemplo, não é um país rico, mas tem um sistema educacional incrível. A GCE fez um relatório que analisa 178 países e os classifica por sua performance em educação. Ele mostra que países relativamente pobres são melhores que outros países pobres. Isso se dá por conta do investimento político e políticas desenhadas para educação. Alguns governos se dão bem em termos gerais, mas estão muito mal em agenda. Outros se dão bem em educação infantil, e não estão bem em letramento de adultos. Mais: outros universalizaram o ensino com uma qualidade baixíssima. O Brasil tem uma performance boa. Na corrida pelo Educação para Todos, está em 16º comparado aos outros países, e em 7º comparado com as nações da América Latina. O Brasil peca especificamente em qualidade de ensino. Esse é o grande desafio brasileiro.

O senhor vê outros desafios para a educação brasileira?
Pelo que eu vejo, uma questão é a insuficiência de professores com formação adequada, ou seja, é necessário investir na formação continuada. Outro desafio é fazer com que as classes sejam pequenas. O tamanho de uma sala é um dos grandes determinantes do progresso em educação. Um problema que vejo, por exemplo, é que se há no Brasil pelo menos 10% de adultos não-alfabetizados, isso tem um grande impacto no sistema da escola. Porque crianças que crescem em casas de pais não-alfabetizados sofrem para avançar no sistema público. Elas vão à escola, mas quando chegam em casa não há nada que reforce o aprendizado e não há apoio. Sabemos que o grande determinante de sucesso no sistema educacional é a casa de onde você vem. Se você vem de uma casa de classe média em que os pais investem e apóiam mais a educação, a probabilidade de ser bem-sucedido é maior do que alguém que vem de uma casa onde ninguém se importa. E aqui eu me refiro particularmente à alfabetização das mulheres, porque a relação entre o letramento feminino e os objetivos educacionais é forte. Se você tem uma mãe alfabetizada, as chances do filho de ir e continuar na escola são maiores.

Qual é a principal questão da educação hoje, globalmente falando?
As contradições entre as políticas educacionais que muitos governos querem desenvolver - e muitos países ricos os incentivam a desenvolver - e as políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em metade dos países, o FMI instituiu o caminho das políticas de limitação de gastos públicos com salários. Isso significa que os governos desses países não podem gastar mais que uma determinada quantia com isso. O maior grupo entre esses servidores, em qualquer país, são os professores. Se o maior grupo entre os servidores públicos são os professores, e o FMI diz que você não pode gastar mais que certa quantia com eles, o caminho que os países escolheram foi não pagar os professores corretamente ou não empregar novos. Num momento em que os governos buscam aumentar as matrículas, melhorar a qualidade e reduzir o tamanho das salas, as políticas do FMI contradizem muito isso. As políticas dizem claramente: você não pode fazer isso.

O que a Campanha Global pela Educação tem feito quanto a isso?
A ONG ActionAid tem feito, com a CGE, uma série de pesquisas sobre o impacto da política monetária do FMI em educação. Temos acompanhado o FMI, ido às reuniões anuais do Banco Mundial no FMI, desafiando-os nessas políticas e mostrando as pesquisas que fizemos. Em setembro do ano passado, o FMI disse: "Aceitamos que o limite salarial para o setor público pode ter um impacto negativo. Então, não iremos usá-lo como rotina nos países, mas em situações excepcionais". Foi uma grande vitória. Na prática, o que fazemos agora é desenvolver um sistema que investigue, nos próximos dois anos, se o FMI realmente está comprometido com essa nova política. Esperamos ouvir algum som de mudança, mas reconhecemos que essa é apenas uma parte da história. Eles podem remover esse ponto, mas há outros aspectos da política macroeconômica imposta que perduram e dificultam o investimento em educação. O FMI continuará ditando as políticas econômicas, o que significa que os próprios ministros da Fazenda terão de reduzir salários de professores ou demiti-los. De maneira indireta, com a imposição de que a inflação fique em 5% e que essa meta seja o centro da economia, não haverá mais investimento em educação, porque isso pode ter um impacto negativo para a inflação. Minha opinião é que se você mantiver a inflação em 1% ou 2%, mas colocar mais 100 mil novos alunos na escola, vale a pena. Mas para o FMI e para os ministros da Fazenda, não. A inflação é a prioridade absoluta.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

A literatura e a figura da mulher

Denize Maria Leal
Numa das obras mais antigas, a Bíblia, no Gênesis, livro da criação de todas as coisas, Eva, a mãe de todos os viventes, é a primeira mulher citada. E depois, seguindo-se a leitura dos demais livros desta obra, depara-se com muitas outras mulheres corajosas, sábias, valorosas, amantes de suas causas e de seus descendentes, capazes de desafiarem a tirania dos poderosos.
É assim também em toda a história da literatura. Em qualquer tempo, a figura feminina sempre teve um lugar de destaque, representando mudança, pois o mundo fica diferente depois da existência desta ou daquela mulher. Seria impossível nomear num pequeno texto as mulheres que marcaram com a história de suas vidas as mentes dos leitores, transpondo séculos e mundos diferentes, permanecendo vivas, tornando-se modelo de conduta, força, orientação.
Mulheres simples, verdadeiras emprestaram seus nomes para títulos dos livros e entregaram suas vidas para enredos de romances e poemas, sem a pretensão da glória. Delas serviu-se e serve-se a Literatura, alimentou-se e alimenta-se de seus atos, de suas lutas, de suas dores para obter a substância das tramas que devolve caprichosamente urdidas pelas palavras. Delineiam-se nas páginas da obra fortalezas, distinguidas pelo amparo, pela defesa, pela proteção. Todas que aí estão não foram imaginadas. Saíram da vida real. São mulheres incríveis, construindo todos os dias o capítulo de uma história digna de figurar no mais vendido, no mais belo livro de literatura, pois são o texto indispensável na obra máxima que é a vida.

O desenvolvimento da leitura em crianças e adolescentes

Escrito por André Gazola como Educação no Brasil

Muito tem sido falado sobre estimular o hábito da leitura desde cedo, permitir às crianças a proximidade com os livros e a falta de vontade dos adolescentes para ler.
Só que de nada adianta esse monte de discursos quando não são tomadas as atitudes certas levando-se em consideração o nível de desenvolvimento do leitor.
Todos nós sofremos alterações cognitivas bastante significativas ao longo de nossas vidas. Essas alterações são ainda mais fortes durante o desenvolvimento cognitivo, que ocorre dos 3 aos 15 anos de idade, aproximadamente.
Ao longo desse período desenvolve-se nossa personalidade e, ao mesmo tempo, nosso entendimento do mundo como um todo. A partir daí, também há os estágios de desenvolvimento da leitura que, se trabalhada de forma correta, tende a evoluir de forma linear.

Desenvolvimento da leitura

De 3 a 6 anos - Pré-leitura
Nessa fase ocorre o desenvolvimento da linguagem oral. Desenvolve-se a percepção e o relacionamento entre imagens e palavras: som e ritmo.
Tipo de leitura recomendada: Livros de gravuras, rimas infantis, cenas individualizadas.
De 6 a 8 anos - Leitura compreensiva
A criança adquire a capacidade de ler textos curtos. Leitura silábica e de palavras. As ilutrações dos livros — que são extremamente necessárias — facilitam a associação entre o que é lido e o pensamento a que o texto remete.
Tipo de leitura recomendada: Aventuras no ambiente próximo, família, escola, comunidade, histórias de animais, fantasias, problemas.

De 8 a 11 anos - Leitura interpretativa
Aqui ocorre o desenvolvimento da leitura propriamente dita. A criança já tem capacidade de ler e compreender textos curtos e de leitura fácil com menor dependência da ilustração. Orientação para o mundo da fantasia.
Tipo de leitura recomendada: Contos fantasiosos, contos de fadas, folclore, histórias de humor, animismo.

De 11 a 13 anos - Leitura informativa ou factual
Se tudo estiver bem e as outras etapas tiverem sido trabalhadas corretamente, aqui já existe a capacidade de ler textos mais extensos e complexos quanto à ideia, estrutura e linguagem. Começa uma pequena introdução à leitura crítica.
Tipo de leitura recomendada: Aventuras sensacionalistas, detetives, fantasmas, ficção científica, temas da atualidade, histórias de amor.

De 13 a 15 anos - Leitura crítica
Aqui já vemos uma maior capacidade de assimilar idéias, confrontá-las com sua própria experiência e reelaborá-las, em confronto com o material de leitura.
Tipo de leitura recomendada: Aventuras intelectualizadas, narrativas de viagens, conflitos sociais, crônicas, contos.
É claro que, de certa forma, esse desenvolvimento “perfeito” chega a ser uma utopia, ainda mais depois de vermos que crianças da 4ª série têm o mesmo nível de crianças da 1ª. Mas quem sabe, se os professores conhecerem seus alunos e respeitarem suas etapas de desenvolvimento, poderemos mudar esse cenário de não-leitores.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Machado de Assis



O estilo do ano

o Centenário da morte de Machado de Assis é bom pretexto para testar os recursos de escrita que o tornaram um dos textos mais elegantes da língua portuguesa
Luiz Costa Pereira Junior
É preciso testar as unanimidades, mas mesmo quem não o leu atesta a grandeza de Machado de Assis. O Brasil, afinal, é isso. E Machado é universal, nosso maior escritor nativo de todos os tempos, que os tempos são pouco mais de 500 anos, mas são nossos.
Já o ano é de Machado. Na poluição de homenagens (ver amostra, nestas páginas) há todo tipo de pegada. Festeja-se sua ironia, ilumina-se cada ousadia, caçam-se novidades para a data, mas o baú do que não se publicou dele parece raso: permitirá uma espiadela sobre crônicas não tão conhecidas, um rasante sobre cartas ignoradas (Ver Inéditos de Machado, página 30). Com poucos autores se descobriu tanto ao ler sua obra; com poucos temos tanto a descobrir, a cada leitura. A poluição de homenagens é até pouca. O homem faz sombra. Seu texto, um século depois de sua morte, vibra.
Os indícios dessa vibração superam as pompas e as leituras de vestibular. Eternidade é estar o morto com os vivos que não irá encontrar, diz Jorge Cooper. Machado efetivamente está com os vivos que nem poderia imaginar, e não se trata de computar seus exemplares vendidos. É o autor sobre o qual o Brasil adora falar. A julgar pela comunidade de 70 mil fissurados em Machado no Orkut. A julgar pelas 625 mil páginas sobre ele no Google de hoje e, antes, pelos mais de 3 mil estudos e verbetes sobre ele em jornais, revistas e livros do mundo em quatro décadas, informa a Bibliografia Machadiana 1959-2003 (Edusp), de Ubiratan Machado.
Sinal talvez de seu encanto contínuo, já se falou tanto de Machado que até as interpretações consagradas sobre sua obra conquistaram o benefício da dúvida; ou, pelo menos, da relativização. Há quem ache agora um mito a idéia de autor de duas fases (o romântico até ingênuo que guina a carreira na maturidade, com Memórias Póstumas de Brás Cubas), em favor da apreensão orgânica de seus livros, fruto que seria da mesma sintonia intelectual e retórica. Há quem ache também irrelevante chamar atenção para o "enigma de Capitu", de ser ela ou não traidora, que o projeto de Dom Casmurro não é apenas a incerteza sobre a mulher de Bentinho ou sobre o narrador Bentinho, mas sobre a própria condição de narrador.
Para muitos, Machado teria desenvolvido sua escrita dentro de um marco de ironia estilística, a que José Guilherme Merquior deu fama numa conferência (Machado em perspectiva), na Faculdade de Letras da UFRJ, em 1989. Merquior chama a atenção para a originalidade da leitura de Enylton de Sá Rego, o primeiro a vincular Machado à tradição da sátira menipéia.
Retórica machadiana
O filósofo cínico Menipo de Gandara (século III a.C.) desprezava as convenções e a riqueza. Nada do que escreveu nos chegou, mas inspirou Saturae Menippeae, de Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C.), e suas histórias de viagens maravilhosas.
O gênero menipeu é também o de Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), que imagina, em Apocolocyntosis, o post mortem do imperador Cláudio, por meio de mixórdia, prosa metrificada e mistura entre o sóbrio e a abobrinha, o fantástico e o real. E após Sêneca, vieram o romano Petrônio, no século 1, e o grego Luciano de Samósata, no 2, assim como Erasmo de Roterdã e Laurence Sterne, inspirador de Machado.
A sátira menipéia traz uma situação fantasiosa ou descabida, mas seu registro é ponderado, com o distanciamento e os elementos de realismo que tornam uma situação grotescamente plausível Memórias Póstumas de Brás Cubas é a encarnação mais explícita dessa tradição.
Estabelecer uma tradição para Machado pode, no limite, negar o que o diferencia. Machado é maior que essa dúvida, no entanto. Cantar a tragédia com gravidade seria jogar no mesmo terreno da melancolia, do mundo de certezas opacas e unívocas. Mas parodiar a morte é rir da própria autopiedade. E Machado o fez embaralhando gêneros, abusando da ironia e do absurdo quando parecia usar técnicas exclusivas do realismo (ser realista era não tanto fazer o retrato das situações sociais, mas revelar a natureza intestina de uma sociedade).
Ou, na frase-síntese do escritor Idálsio Tavares: "No tempo das fotografias, Machado manejava o caleidoscópio".
Humor gráfico
Autor de 9 romances, 4 livros de poesia, 7 de contos, 10 peças de teatro, além de críticas, traduções e crônicas, Machado foi o crítico da sociedade fútil, da falsidade, da retórica vazia, mas foi consciente de que é impossível fazer o relato completo da realidade, pois o sentido das coisas não é estável, é movediço; não é sólido, mas gelatinoso. Seu humor é gráfico, brinca com associações de idéias, desenha-se na imaginação do leitor, não vem da piada explícita. Daí seu esmero retórico.Como Machado, por exemplo, explorava sua hoje reverenciada sutileza?
Retórica machadiana lançou olhar compreensivo sobre natureza humana
Entre outros fatos, a serviço de um olhar compreensivo sobre as fraquezas humanas. No conto Um Homem Célebre (Várias Histórias), essa sutileza é operada na prática. O pianista Pestana sonha com a imortalidade que nunca terá, a mesma das criações clássicas de Beethoven, Cimarosa ou Mozart. Tomara gosto pela música na infância com um padre, que as más línguas garantem ser seu pai biológico. Mas, engolido pelo horizonte limitado de seu tempo, Pestana ganha fama como compositor de polcas. Esse é o conflito nuclear da narrativa e não caberia desviar-se dele; por isso, Machado descarta explorar a filiação:"Compusera alguns motetes o padre, era doudo por música, sacra ou profana, cujo gosto incutiu no moço, ou também lhe transmitiu no sangue, se é que tinham razão as bocas vadias, cousa de que se não ocupa a minha história, como ides ver."
Centra-se no essencial: a sina de um músico de ambições clássicas que, popular mas vencido pelas imposições da ocasião, morre sem compor nada de erudito ("bem com os homens, mal consigo mesmo").
Até ali o assunto da paternidade de Pestana esteve encerrado, mas Machado, de relance, deixou lá pela metade do conto sua marca. Enquanto narra o pianista num momento entusiasmado da composição de uma polca, menciona:
"Gostou dela; na composição recente e inédita circulava o sangue da paternidade e da vocação".
E nos dá, discreto, com piscadela, a confirmação dos boatos maldosos, que, na superfície, garantira evitar.
Elegância retórica
A esse tipo de elegância retórica para fechar pontas soltas de uma história, Machado inseriu outros.
Em Verba Testamentária, conto de Papéis Avulsos, ironiza a dicção médica ao descrever um caso de inveja como se fosse patologia. O autor ilumina os comportamentos insólitos, mas os disfarça em meio a cenários a que estamos familiarizados, interpreta Ivan Teixeira, na introdução de Papéis Avulsos, da Martins Fontes (2005). O mundo real não é melhor do que sua mais tímida projeção ideal. Se isso é de algum modo verdade, ela é um palco mais saboroso para o próprio realismo. "A literatura já não será espelho de exemplos, mas campo de possibilidades, laboratório de hipóteses ou jogo de tentativas", escreve Teixeira.
Para ele, Machado foi levado à elocução irônica e humorística ao buscar a proporção adequada entre tamanho do texto, natureza da matéria e tom do estilo, a chamada "justa grandeza" dos clássicos.
Ele incorporou alusões que dão, à superfície das situações que descrevia, a força de comentário crítico. Não é um narrador preocupado, lembra Manuel Bandeira, com a paisagem e a descrição. O exterior só o interessa na medida em que surte efeitos sobre o íntimo.
Cumplicidade
Seu narrador é irônico, está em permanente diálogo com o leitor. Seu texto quer cumplicidade, busca mudar o gosto de um público que não era, em seu tempo, dos mais experimentados. Num país com então 17 milhões de habitantes (quase 70% na área rural), Dom Casmurro encontrou 18% de alfabetizados, mas só 2% capazes de comprar livros, informa a Câmara Brasileira do Livro. Destes, a preferência era por outro tipo de leitura (o best-seller à época da obra máxima de Machado era Por que me Ufano de meu País, de Conde Afonso Celso de Assis Figueiredo, com 300 mil cópias vendidas).
Dialogar com o leitor era talvez um ardil para estabelecer um outro acordo ficcional. No conto A igreja do Diabo, Deus censura a camuflagem retórica do demo, que decide fundar igreja própria (ele o faz com sucesso e uma multidão de adeptos, que, com o tempo, começam a fazer o bem às escondidas, "é da natureza humana", replica o Senhor, ao fim da história). Repare que a crítica a seguir é aos golpes de eloqüência, em particular dos moralistas, o que, por extensão, podemos aplicar aos romancistas do tempo de Machado.
"Tu és vulgar, que é o pior que pode acontecer a um espírito da tua espécie, replicou-lhe o Senhor. Tudo o que dizes ou digas está dito e redito pelos moralistas do mundo. É assunto gasto; e se não tens força, nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires."
Mecânica do texto
O processo de forjar o leitor crítico implicou para Machado chamar a atenção para o funcionamento de seu próprio texto. É como se desvendasse o ponto de vista de quem vê o palco de uma peça. A sensação de que não se pensa em si mesmo como audiência da história, mas mergulhado nela. Machado evidencia a própria artificialidade da escrita. Em Memórias Póstumas, consegue até fazer transições narrativas manipulando digressões.
"E vejam agora com que destreza, com que fina arte faço eu a maior transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão-pecado da juventude; não há juventude sem meninice; meninice supõe nascimento; e eis aqui como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, em que nasci. Viram? Nenhuma juntura aparente, nada que divirta a atenção pausada do leitor: nada. De modo que o livro fica assim com todas as vantagens do método, sem a rigidez do método. Na verdade, era tempo. Que isto de método, sendo, como é, uma coisa indispensável, todavia é melhor tê-lo sem gravata nem suspensórios, mas um pouco à fresca e à solta, como quem não se lhe dá da vizinha fronteira, nem do inspetor de quarteirão."
O mundo é tecido complexo, de poucas, falsas ou meias verdades. Na crônica O punhal de Martinha, do jornal A Semana (1894) e citada por Ivan Teixeira, o limite é explicitado: "Não quero mal às ficções, amo-as, acredito nelas, acho-as preferíveis à realidade; nem por isso deixo de filosofar sobre o destino das cousas tangíveis em comparação com as imagináveis. Grande sabedoria é inventar um pássaro sem asas, descrevê-lo, fazê-lo ver a todos, e acabar acreditando que não há pássaros com asas".
A realidade de um pássaro sem asas é uma clarividente metáfora machadiana. A dimensão daquilo que é discurso cria uma realidade própria, que dita os nossos passos. Discurso, convenção social, arte, política, qualquer signo cria o próprio objeto e esse objeto se reitera no tempo, se amplifica no espaço, vira tradição, impõe comportamentos, como se fossem a própria realidade material do mundo.
O mundo exterior à linguagem, parece dizer Machado, pesa menos que os efeitos de real provocados pela imaginação. "O pássaro sem asas, não encontrando referente no mundo exterior à linguagem, remeto o leitor ao próprio sistema de representação", anota Ivan Teixeira.
O pássaro sem asas é uma imagem irônica da "ordem absurda do homem na terra", uma generalização extremada, a conversão do mundo em discurso, única maneira de realmente representá-lo. Machado reflete sobre a cultura, não a natureza. Descrê que há essências, vê o mundo como uma construção. E faz isso como quem pisca de lado.
Agenda de eventos
iniciativa
A literatura de Machado de AssisFesta Literária Internacional de ParatyAspectos da literatura machadianaExposição Machado de AssisO conto machadiano
O que é
Ciclo de conferênciasHomenageado da ediçãoExibição de adaptaçõesExposição temporáriaCiclo de palestras
Quem promove
ABLFlipABLMuseu da Língua PortuguesaCasa de Rui Barbosa
Quando
De abril a maioJunhoDe junho a dezembroSegundo semestre (previsão)Setembro, às segundas
Onde
Rio de JaneiroParaty (RJ)Rio de JaneiroSão PauloRio de Janeiro
Inéditos de Machado
Correspondência passiva (org. Sérgio Paulo Rouanet), versão em livro de mais de 700 cartas recebidas pelo autor, editada pela ABL
Poesias completas de Machado de Assis (Edusp/Nankin), org. Rutzkaya Queiroz dos Reis
Releituras
Lygia Fagundes Telles, uma das escritoras que vai reescrever Machado
Pelo menos três projetos editoriais a serem lançados este ano desafiaram escritores atuais a refazer obras de Machado de Assis.
A Ediouro uniu-se à Geração Editorial para editar uma coletânea de contos baseados em personagens e situações inventadas por Machado. Nomes de peso integram a iniciativa, como Lygia Fagundes Telles, Moacyr Scliar e Antonio Carlos Secchin, com organização de Rinaldo de Fernandes.
A Record lança em abril Recontando Machado, em que autores compõem novas versões para contos do escritor, e o resultado será impresso ao lado do original, com organização de Luiz Antônio Aguiar. Já em agosto, é a vez de a Publifolha lançar sua coletânea em que nomes como Cristóvão Tezza recontam os romances machadianos em histórias curtas.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Resumindo clássicos da literatura em um parágrafo - Fonte: Lendo.org

Hora de rir um pouco da literatura :)

"... resumos dos maiores clássicos da literatura. Só que quando falo em resumos, estou falando de resumos mesmo."

Leon Tolstoi: Guerra e Paz (em torno de 300 pág.)
Um rapaz não quer ir à guerra por estar apaixonado e por isso Napoleão invade Moscou. A mocinha casa-se com outro. Fim.

Marcel Proust: À La recherche du temps perdu (Em Busca do Tempo Perdido) (1600 pág.)
Um rapaz asmático sofre de insônia porque a mãe não lhe dá um beijinho de boa-noite.
No dia seguinte (pág. 486. vol. I), come um bolo e escreve um livro. Nessa noite (pág. 1344, vol.VI) tem um ataque de asma porque a namorada (ou namorado?) se recusa a dar-lhe uns beijinhos. Tudo termina num baile (vol. VII) onde estão todos muito velhinhos — e pronto. Fim.

Luís de Camões: Os Lusíadas (550 pág.)
Um poeta com insônia decide encher o saco do rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa super-gente-fina), ganham a maior boa vida numa ilha cheia de mulheres gostosas. Fim.

Gustave Flaubert: Madame Bovary (778 pág.)
Uma dona de casa insatisfeita mete o chifre no marido e transa com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do boteco, o dono da mercearia e um vizinho cheio da grana. Depois entra em depressão, envenena-se e morre. Fim.

William Shakespeare: Romeu e Julieta (685 pág.)
Dois adolescentes doidinhos se apaixonam, mas as famílias proíbem o namoro, as duas turmas saem na porrada, uma briga danada, muita gente se machuca. Então um padre tem uma idéia idiota e os dois morrem depois de beber veneno, pensando que era sonífero.Fim

William Shakespeare: Hamlet (950 pág.)
Um príncipe com insônia passeia pelas muralhas do castelo, quando o fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada, que entretanto se suicida ao saber que o príncipe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha matado o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O príncipe mata o tio que dorme com a mãe, depois de falar com uma caveira e morre assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que tinha se suicidado. Fim.

Sófocles: Édipo Rei (105 pág.)
Maluco tira uma onda, não ouve o que um ceguinho lhe diz e acaba matando o pai, comendo a mãe e furando os olhos. Por conta disso, séculos depois, surge a psicanálise que, enquanto mostra que você vai pelo mesmo caminho, lhe arranca os olhos da cara em cada consulta. Fim.

William Shakespeare: Othelo (750 pág.)
Um rei otário, tremendo zé-ruela, tem um amigo muito fdp que só pensa em fazê-lo de bobo. O tal “amigo” não ganha um cargo no governo e resolve se vingar do rei, convencendo-o de que a rainha está dando pra outro. O zé-mané acredita e mata a rainha. Depois descobre que não era corno, mas apenas muito burro por ter acreditado no traíra. Prende o cara e fica chorando sozinho. Fim.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Quer Ler Paulo Coelho? À Vontade

Texto retirado do blog: Lendo.org

Esses dias, recebi um e-mail do André Santos com uma dúvida que considero bastante pertinente e que pode ser comum a muita gente que passa por aqui ou acompanha algumas discussões sobre literatura:
Eu pretendia comprar o livro O Alquimista, mas já li umas duas vezes você falando mal do coitado. E agora? Compro ou não compro? Não conheço nada da obra dele. Conheço pessoas que o idolatram e outras que acham um lixo.
Minha resposta ao André, foi essa:
Para mim, é dinheiro jogado fora por dois motivos:
1. O livros são um lixo SIM, do ponto de vista literário. A maioria das pessoas que gosta, é do tipo “leitor não conhecedor”. Aqueles que lêem só por ler, mesmo. Nada impede de você gostar, mas não vale a pena. Garanto.
2. É muito fácil baixar os PDF’s pela internet, o próprio Paulo Coelho “estimula a pirataria” dos livros dele.
O que acho que você deve fazer é procurar um PDF do tal livro e ler um pouco no computador mesmo. Aí, se gostar, compre o livro. É um jeito de não perder dinheiro.
Mas acredito que o assunto Paulo Coelho mereça mais algumas explicações.
Paulo Coelho é auto-ajuda barata (que pode sair cara)
Quase sempre o primeiro argumento de quem não gosta de Paulo Coelho é dizer que seus livros são auto-ajuda, e “eu odeio auto-ajuda”. Certo, auto-ajuda foi o gênero que alavancou as vendas do autor nos anos 90. Livros como O dom supremo, Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei e Veronika decide morrer são, realmente, livros para “coitadinhosdepressivosquequeremsematar”, mas as obras mais recentes do autor, apesar de conservarem alguns elementos típicos desse gênero, possuem uma característica bem mais forte, quando o assunto é atrair leitores.
Narrar x Escrever
Esse é o ponto. Paulo Coelho é um narrador que está entre os melhores do mundo. Ele sabe muito bem que seus leitores não estão interessados em grandes obras literárias, mas sim em mensagens positivas que tornem suas vidas… hum, mais agradáveis.
Questões esotéricas? Nada. A maioria dos leitores do Coelho nem sabe o significado de esoterismo, eles são fisgados por sua capacidade de contar histórias.
Uma comparação irresistível: alguém aí considera a Bíblia uma grande produção literária? Espero que não. Mas a narrativa ficcional é muito envolvente.
Paulo Coelho escreve mal? Os livros de Paulo Coelho são sempre iguais? Já vamos falar sobre isso, mas antes uma citação muito oportuna do Ziraldo:
Pode-se fazer um grande romance escrevendo feio. Paulo Coelho escreve mal feito poucos, mas é um narrador extraordinário.
Paulo Coelho escreve mal
Eu já ouvi muita, mas muita gente MESMO, falando mal de Paulo Coelho sem sequer ter lido um parágrafo seu e sem ser capaz de explicar o porquê de sua opinião, dando exemplos práticos.
Nessa página do Portal das Letras, o professor J. Milton Gonçalves fez uma compilação de várias pérolas encontradas no livro O Alquimista, um dos mais vendidos do autor. Vou reproduzir algumas delas aqui, só para você ver o que lhe espera ao ler Paulo Coelho.
Há dois dias atrás você disse que eu nunca tive sonhos de viajar. (Pág. 86)
A impressão que fica é que PC adora brincar de escrever português. Qualquer pessoa com dois dedinhos de leitura descontraída sabe que há e atrás não combinam.
“Há dois dias atrás” é expressão redundante, pois a idéia de passado já está contida no verbo haver, sendo desnecessário o uso do advérbio atrás. A excrescência também ocorre nas páginas 103, 133, 161, 210, 242…
E quero que saiba que vou voltar. Eu te amo porque… (Pág. 189)
Fazer alquimia com as pessoas de tratamento, parece ser a diversão preferida de Paulo Coelho. O próximo exemplo é ainda mais dramático:
– Eu te amo porque tive um sonho… Eu te amo porque todo o Universo conspirou para que eu chegasse até você.” (Pág. 190)
Sei que é covardia comparar PC com um dos clássicos de nossa literatura. Mas confesso que não resisti à tentação. Compare este trecho de Machado de Assis, extraído de Dom Casmurro:
Aqui tendes a partitura, escutai-a, emendai-a, fazei-a executar, e se a achardes digna das alturas, admiti-me com ela a vossos pés…
Que tal? O estranho é que tem gente que não percebe as diferenças. Mais algumas:
O pastor contou dos campos de Andaluzia, das últimas novidades que viu nas cidades onde visitara. (Pág.24)
A gente sempre acaba fazendo amigos novos, e não precisa ficar com eles dia após dia. (Pág. 40)
O alquimista enfiou a mão dentro do buraco , e depois enfiou o braço até o ombro. (Pág. 184)
Últimas novidades… fazer amigos novos… enfiar dentro… Por que será que os alquimistas gostam de fazer isso com a gente? Por quê?!
Se a gente não for como elas esperam ficar, chateadas. (Pág. 40)
Tarefa ingrata é tentar descobrir o sentido dessa frase. Cabeça de mago e bumbum de criança sempre têm coisas estranhas, muito estranhas…
Certo. Vou parar de torturar vocês. Espero que depois disso, não haja mais dúvidas sobre o talento literário de Paulo Coelho. Mas tem mais uma coisinha que eu falei pro André.
Download grátis dos livros de Paulo Coelho
É isso mesmo. Por mais que você leia críticas, explicações e motivos para dizer que Paulo Coelho escreve mal, acredito que sua opinião é a mais importante. Quem deve gostar de um livro é você. Quem deve gostar de qualquer coisa é você, independente do que pensem os outros.
É por isso que eu disse ao André para baixar o PDF do livro. Aproveite que o próprio Paulo Coelho estimula a pirataria de suas obras e faça o download de (quase) todos os livros de Paulo Coelho, leia — assumindo todos os riscos que já falei — e volte aqui para contar o que achou.
À vontade:
Arquivos do inferno (1982)
Manual prático do vampirismo (1986) [recolhido pelo autor]
O diário de um mago (1987)
O Alquimista (1988)
Brida (1990)
O dom supremo (1991)
As valkírias (1992)
Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei (1994)
Maktub (1994), coletânea de suas melhores colunas publicadas na Folha de São Paulo
Frases (1995), compilação de textos
O Monte Cinco (1996)
O manual do guerreiro da luz (1997)
Veronika decide morrer (1998)
Palavras essenciais (1999)
O demônio e a Srta. Prym (2000)
Histórias para pais, filhos e netos (2001), coletânea de contos tradicionais
Onze minutos (2003)
O Gênio e as Rosas (2004)
O Zahir (2005)
A Bruxa de Portobello (2006)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A História da Língua Escrita




Escrito por André Gazola como Lingüística

A língua escrita é uma das formas assumidas pela língua, postula Geoffrey Sampson (1996: 7s). Esta é uma citação corajosa, se considerarmos que a lingüística do século XX tem dedicado muito de seu empenho � língua falada, vista como a mais “natural”.
A história (e a pré-história) da escrita acompanha o próprio desenvolvimento da civilização. Leroi-Gourhan (mencionado por Dubois et alii 1973) situa a origem da escrita 50.000 anos antes de nossa era (com incisões regularmente espaçadas em pedra ou osso) e em 30.000 anos antes da nossa era (figuras gravadas ou pintadas). Os pictogramas constituem a primeira grande invenção do homem no domínio da escrita.
Outra é a posição de inúmeros estudiosos, como Sampson (p. 47 s.), que registram a escrita suméria como a mais antiga, levando em conta seu caráter de escrita e não de pintura. Esta cultura antiga da Mesopotâmia, a dos sumérios, (mais tarde absorvida pelos babilônios) criou as primeiras cidades. Nela surgiram também os primeiros escribas. Sua escrita arcaica era utilizada para fins administrativos, tais como o registro de pagamento de impostos. Esta escrita arcaica posteriormente evoluiu para a técnica cuneiforme, que era organizada em tabuinhas de argila.
A civilização egípcia, anos depois, desenvolveu a escrita hieroglífica, constituída de belos sinais encontrados em suas tumbas e monumentos. Os egípcios registraram textos religiosos e documentos importantes em papiros.
Surgiram várias classificações dos tipos de escrita. E a de M. Cohen (apresentada por Dubois et alii 1973) é uma das mais conhecidas. Ele distingue três etapas:
A dos pictogramas, arcaica e figurativa, que representa do conteúdo da língua;
A dos ideogramas, signos que representam de modo mais ou menos simbólico o significado das palavras;
A dos fonogramas, signos abstratos que representam elementos de palavras ou de sons, como nas escritas alfabéticas.
Os sistemas de escrita rumam para uma economia cada vez maior. Os sistemas pictográficos, mais antigos, eram pouco explícitos para quem não fizesse parte da comunidade; os sistemas ideográficos são extensos, no sentido de exigirem um signo para cada objeto; as escritas alfabéticas ou silábicas, por sua vez, permitem registrar uma infinidade de mensagens com um mínimo de signos.
Mas, se tivéssemos que defini-la, o que é escrita?
“Escrita é uma representação da língua falada por meio de signos gráficos.”
diz o dicionário de lingüística de Dubois. E continua mais adiante:
“A fala se desenrola no tempo e desaparece; a escrita tem como suporte o espaço, que a conserva.” (p. 222)
Escrita alfabética é a que recorre a signos para representar determinados sons. A princípio, os alfabetos costumam ser silábicos; depois, passam a ser fonéticos.
Os fenícios da antiga cidade de Biblos desenvolveram, cerca de mil anos antes de Cristo, um sistema de escrita formado por 22 signos silábicos. Esta escrita, devido a sua simplicidade, rapidamente espalhou-se entre os outros povos semitas, e mais tarde atingiu a Pérsia e a Índia. Divulgou-se também em sentido oeste, e foi adotado pelos gregos. As vogais não eram indicadas nos sistema silábico fenício; os criadores do alfabeto completo foram, assim, os gregos.
Bibliografia:
DUBOIS, Jean et alii. Dicionário de lingüística. São Paulo, Cultrix, 1973.SAMPSON, Geoffrey. Sistemas de escrita. São Paulo, Ática, 1996.

26 Vantagens Para Se Ler Mais! - texto em inglês

If you are one of the non-book readers who feels you “don’t need no stinking books”, here are 26 great reasons to start the habit…before you are left behind!

1. Reading is an active mental process - Unlike TV, books make you to use your brain. By reading, you think more and become smarter.
2. It is a fundamental skill builder - Every good course on the planet has a matching book to go with it. Why? Because books help clarify difficult subjects. Books provide information that goes deeper than just classroom discussion.
3. Improves your vocabulary - Remember in elementary school when you learned how to infer the meaning of one word by reading the context of the other words in the sentence? You get the same benefit from book reading. While reading books, especially challenging ones, you will find yourself exposed to many new words you wouldn’t be otherwise.
4. Gives you a glimpse into other cultures and places - What is your favorite vacation spot? I would bet you read a lot about that destination. The more information the better. Books can expand your horizons by letting you see what other cities and countries have to offer before you visit them.
5. Improves concentration and focus - Like I pointed out before, reading books takes brain power. It requires you to focus on what you are reading for long periods. Unlike magazines, Internet posts or e-Mails that might contain small chunks of information. Books tell the whole story. Since you must concentrate in order to read, like a muscle, you will get better at concentration.
6. Builds self-esteem - By reading more books, you become better informed and more of an expert on the topics you read about. This expertise translates into higher self esteem. Since you are so well read, people look to you for answers. Your feelings about yourself can only get better.
7. Improves memory - Many studies show if you don’t use your memory, you lose it. Crossword puzzles are an example of a word game that staves off Alzheimer’s. Reading, although not a game, helps you stretch your memory muscles in a similar way. Reading requires remembering details, facts and figures and in literature, plot lines, themes and characters.
8. Improves your discipline - Obviously, if 1 in 4 people don’t read one book per year, then there is a discipline issue. There may be many causes for people not reading books such as the “quips” of information you can get on the Internet. TV is also a major distracter. Making time to read is something we all know we should do, but who schedules book reading time every day? Very few… That’s why adding book reading to your daily schedule and sticking to it, improves discipline.
9. Learn anywhere - Books are portable. You can take them almost anywhere. As such, you can learn almost anywhere too.
10. Improves creativity - by reading more books and exposing yourself to new and more complete information, you will also be able to come up with more creative ideas. As a personal example, I read many, many books on IT Networking. So often, when IT Admins are stumped with a problem, I can come up with a creative (smack your head simple) solution that isn’t written anywhere. But the reason I can do that is because I have read so many books on the subject, I can combine lessons from all of them into new solutions.
11. Gives you something to talk about - Have you ever run out of stuff to talk about with your best friend, wife or husband? This can be uncomfortable. It might even make married couples wonder if their marriage is in trouble. However, if you read a lot of books, you’ll always have something to talk about. You can discuss various plots in the novels you read, you can discuss the stuff you are learning in the business books you are reading as well. The possibilities of sharing are endless.
12. Books are inexpensive entertainment - What’s the average price of a movie ticket these days? $8 - $10? You can buy a paperback for that price and be entertained for many hours more. If you have a used bookstore nearby, you can get them even cheaper.
Tip: Once you make reading a habit, you’ll enjoy reading the books in your chosen career as well.
13. You can learn at your own pace - Where formal education requires time commitments, books have no late-bells or hourly commitments. So you can learn at your own pace when you read books.
14. New mental associations - I touched on this above. As you read more books the depth and breadth of your knowledge expands and your ability to form new associations increases. In reading a book to discover the solution to one problem, you find the solution to others you may not have considered.
15. Improves your reasoning skills - Books for professionals contain arguments for or against the actions within. A book on cooking argues that Chili powder goes well with beef and goes poorly with ice-cream. A book on building a business argues that testing an idea for profitability before setting up is a smart strategy and argues against just barreling forward with the idea without testing.
You too will be able to reason better with the knowledge you gain. Some of the arguments will rub off on you. Others you will argue against. Regardless, you’ll be reasoning better.
16. Builds your expertise - Brian Tracy has said one way to become an expert in your chosen field is to read 100 books on the subject. He also said by continuing the same for 5 years you’ll become an international expert. With the Internet and blogs, you could hone that time down to 2-3 years if you follow through.
17. Saves money - Apart from saving money on entertainment expenses. Reading books that help you develop your skills saves money. Reading books on how someone went bankrupt will be a warning to you against repeating their mistakes. Reading a book on how to build your own backyard deck saves the expense of hiring a contractor.
18. Decreases mistakes - Although I would never suggest putting off an important goal because you fear making mistakes, it is still important to sharpen the saw (link to A.L. post). When you gather the deep and wide wisdom that books can provide, you are less apt to make mistakes.
19. You’ll discover surprises - As you read more books as a source of information, you’ll learn stuff you weren’t looking for. I’ve read many great quotes on life and love by reading books on marketing. I’ve learned facts about biology from reading about chemistry. Heck, I’ve picked up some facts about history while reading about programming. Since so many subjects intertwine it’s almost impossible not to learn something other than the book’s subject.
20. Decreased boredom - One of the rules I have is if I am feeling bored, I will pick up a book and start reading. What I’ve found by sticking to this is that I become interested in the book’s subject and stop being bored. I mean, if you’re bored anyway, you might as well be reading a good book, right?
21. Can change your life - How many times have you heard of a book changing someone’s life? For me, it was Your Erroneous Zones (link) by Wayne Dyer - which is the first self-development book I read. It opened my eyes to a whole new way of thinking that was not depressing and dull. It was the first step in my path of choosing my own life and being free of old habitual thought patterns.
There are many, many other books out there that have a reputation for changing lives including Getting Things Done: The Art of Stress-Free Productivity, Handbook to Higher Consciousness, Atlas Shrugged , A Tree Grows in Brooklyn, Lord of the Rings and Black Boy to name a few. But you can start in your chosen field and work your way outward.
22. Can help break a slump - Being in a slump is uncomfortable. If you are a writer, you call it writer’s block. If you are a salesperson, it’s called - not making a sale in 23 days. But a slump can be a crossroads. It might be you are wavering on your commitment to a particular project or (with marriage) person. Or a slump can be simply a lack of new ideas. Books are a great source of ideas, big and small. So if you find yourself in a slump, pick a book on the portion of your life you are slump-ing and get to reading!
23. Reduces stress - Many avid readers (including me) unwind by reading. Compared with the person who gets home from work and immediately turns on the TV news, you are going from work stress to crime stress. But it’s not just news. TV as a source of relaxation is too full of loud commercials and fast moving (often violent) images. If relaxation is something you want, turn off the TV or computer and pick up a book.
24. Gets you away from digital distractions - If you, like many others, feel overwhelmed with the flashing lights, beeps, boops and ring-a-dings that burn up our computing lives, then give books a chance. When you find some good books, you’ll find yourself drawn into the subject matter. You’ll want to spend more time reading. By spending more time reading books, you’ll have less time for the plethora of the digital gadgets begging for our attention.
25. You’ll make more money - If you make a serious effort to read in your chosen career, your expertise in that specialty will increase. As you become more specialized and learned, you join a smaller group of more qualified people. By being part of the small few with the highest level knowledge your pay will increase. It’s simple supply and demand.
26. The book is always better than the movie - except for perhaps No Country for Old Men